Leia

Padre Fábio de Melo fala sobre a inveja e a vaidade

A inveja e a vaidade são riscos para desintegração do nosso coração

A Igreja precisa descobrir uma forma de chegar até o coração do artista. Não pela mesma via e pelo mesmo jeito que se chega ao coração das pessoas. Você tem um jeito de ser e precisa ser tratado na sua diferença, pois, se não cuidamos do jeito que somos, nos transformamos em monstros. O romântico corre o risco de ver a vida passar sem viver, perdendo o senso da realidade com ilusões.

Padre Fabio de Melo fala sobre a inveja e vaidade

A inveja é o grande risco da primeira desintegração do nosso coração de artista por querer o que não nos pertence. Uma das coisas que me impressionam em Jesus é a capacidade que Ele possui de fazer com que os outros tomem posse do que realmente são. Pare de se imaginar e de se projetar em realidades que não são concretas em sua vida, pois isso é o mesmo que não viver!

O conceito de pessoa dentro da filosofia e da teologia é estabelecido dentro de dois polos:
1º Ser pessoa é se dispor de si.
2º É se dispor para o outro.

Pois, se você não é dono daquilo que é seu, como você vai oferecê-lo ao outro? Conversão é processo de tomada de posse daquilo que se é. Deus não pode trabalhar a partir do que não sou ou finjo ser, Ele não trabalha com fantoches.

Ser pessoa é, antes de qualquer coisa, ter a disposição de fazer a vida valer a pena mesmo tendo diante de si limites e qualidades. Não pode haver ser humano realizado, feliz e cristão se não existir a busca daquilo que se é. A sua conversão passará por essa compreensão.

Graças a Deus, essa não é uma realidade que está acima de nós, mas é um movimento que nos faz refletir sobre o que somos para descobrirmos quem somos nós.

A nossa natureza artística é naturalmente artificial. Se por um lado somos dotados de profundidade, por outro lado caímos facilmente em artifícios, visto que, muitas vezes, nossas vidas se iluminam com algumas novidades. A nossa alma é estética, temos uma facilidade muito grande para nos encantar pelo estético, pelo belo, o que não é defeito e, sim, diferença que precisa ser domada.

A nossa instabilidade afetiva é tão concreta que se não nos projetamos naquilo que realmente somos, nós nos tornamos “prostitutos de luxo” de nossa arte. E desse modo, corremos atrás de qualquer artifício passageiro e damos respostas rápidas. E por não sabermos demorar, nos decepcionamos e cavamos em nosso interior uma ausência de disposição de nós mesmos.

E, assim, colocamos a vida na mão do outro e deixamos que este decida por nós. Por essa razão, nós não temos condições de nos dispormos para o outro, porque deixamos de nos dispor a nós mesmos. É por isso que o compromisso para o artista é tão difícil de ser levado adiante.

Tomemos cuidado para que o próprio Deus também não se torne a nossa vaidade! O destino desta vaidade somos nós quem o escolhemos: ou a dominamos ou ela nos domina. A nossa vaidade se multiplica de várias formas, por isso não inventemos um personagem.

Ao descobrirmos onde está o nosso maior defeito descobriremos onde está a nossa santidade. Uma coisa é saber o que somos, outra coisa é saber o que fazemos com o que somos. E o pior é o que deixamos o outro fazer de nós! Não temos o direito de nos deixar transformar na imaginação do outro.

Se assumimos o compromisso de saber o que Deus fez e faz em nossa vida, começamos a trabalhar em parceria com Ele, pois o que o Senhor fez nela ainda não está pronto. Ele nos dá as sementes, o plantio é nosso. Deus não vem plantar a nossa floresta.

Se quisermos nos firmar sem medo da verdade antropológica essa é a verdade: “da raiz que nos fez frutos, desfrutamos da divina condição”. O homem é o “tu” de Deus, ele acontece plenamente no coração quando se dispõe a ser o que Deus é e fez dele. Nós somos Deus na vida do outro, da namorada, do nosso filho, entre outros, não é assumir uma divindade à parte, a nossa divindade só acontece com nossa participação e comunhão com Deus e com os irmãos.

Se saímos da mira de tudo o que é sagrado, não sabemos mais quem somos. Isso é viver a identificação com Deus. É viver a arte de ser humano e divino ao mesmo tempo, essas não são realidades que se opõem, mas sim parceria de duas realidades que se dão juntas.

Vivamos uma história de amor com nós mesmos e não permitamos que o outro nos sequestre. Apaixonemo-nos por nós mesmos! O amor ao outro só é possível no momento em que nos amamos.

Padre Fábio de Melo

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.