Formação

A beleza salvará o mundo

Padre Joãozinho nos fala sobre como a beleza salvará o mundo

Nós somos imagem e semelhança de Deus, mas Ele não é singular. Deus é mais do que uma nota uníssona. É  harmonia. Deus é pai, filho e Espírito Santo. É um acorde. Para o músico não é difícil entender a Santíssima Trindade. Deus é um acorde, é como juntar três notas diferentes. 

Quando se diz que a beleza salvará o mundo, não se fala simplesmente de estética externa. Seja da forma plástica, seja da forma musical. A beleza que salvará o mundo é a beleza que vem de Deus. No princípio, Deus criou o mundo, e, diz em Gênesis, Ele viu que tudo era belo. Essa frase, “a beleza salvará o mundo”, é de um poeta russo, Dostoievski. 

O pecado, ao contrário da beleza, que é afinada, insere uma desafinação no mundo. Ele insere uma nota desafinada no meio do acorde de Deus. 

São João Paulo II escreveu uma carta aos artistas, aos músicos, cantores, pintores etc. A carta é longa, mas você pode ler inteira depois, eu trouxe aqui apenas o final. Vamos ouvir com o coração totalmente aberto: 

“Desejo a vós, artistas, que sejais abençoados com particular intensidade com inspirações criativas. A beleza que transmitireis às novas gerações seja uma beleza que tenha êxtase. Diante da sacralidade da vida e do ser humano, diante das maravilhas do universo, o êxtase é a única atitude adequada” – Êxtase, marque essa palavra. E ele continua.

“Deste êxtase poderá brotar o entusiasmo de homens. Os homens de hoje e também os de amanhã têm necessidade deste entusiasmo – Entusiasmo, marque essa palavra também – para enfrentar e vencer os desafios de todo dia. Com este entusiasmo, a humanidade poderá, depois de cada extravio, levantar-se de novo e recuperar o seu caminho”. E foi neste sentido que Dostoievski disse com perfeição “a beleza salvará o mundo”. 

A beleza salvará o mundo, porque nós, músicos, pela ação de Deus, temos no nosso coração a harmonia original. O acorde que nós estamos colocando para fora vem de um sopro do Espírito, que faz ecoar de nós a canção de Deus. E isso recompõe, restaura. Portanto, a música espiritual tem o poder restaurador de eliminar toda a desafinação. Ela nos enche de entusiasmo. 

A palavra entusiasmo significa cheio de Deus. Quando alguém cheio de Deus canta, ele enche de Deus todas as pessoas, e ele encanta, ele leva o êxtase, ele anima. Então, o músico é chamado a ser uma mola, uma mola que joga as pessoas para cima. Seja na liturgia, seja num show de evangelização, seja num pequeno grupo de oração, a música tem que nos jogar pra cima.

O Papa diz mais: “A beleza é a chave do mistério e apela ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar com o futuro. Por isso a beleza das coisas criadas não pode saciar”. Aqui, vemos o perigo da beleza. Nós precisamos estar muito conscientes das armadilhas da beleza. 

Santo Agostinho era encantado pela beleza exterior, e passou praticamente metade da vida buscando na beleza exterior o êxtase, o encanto, o entusiasmo, a resposta para os seus mais profundos problemas e para suas maiores perguntas. E então, ao conhecer a beleza interior e ler a Bíblia, Santo Agostinho percebeu que estava procurando a coisa certa no lugar errado. 

Nós artistas temos uma hipersensibilidade para com a beleza, para com a harmonia. Nós não suportamos a desarmonia. Porém, ao nos apegarmos às criaturas, nós podemos perder a capacidade espiritual de ouvir os cantos e os encantos do Criador. Nós nos apegamos tanto a nossa canção e ao nosso ministério, que somos capazes até de usar as criaturas, achando que com isso vamos estar preenchendo a nossa alma. 

É uma ilusão achar que vamos encontrar algo para preencher o coração inquieto na nossa canção, na nossa pregação, no nosso livro. Santo Agostinho afirma: “Meu coração estava inquieto e só em Deus encontro repouso”. Deus nos fez assim, vulneráveis, ele nos quer assim. 

 

Transcrição adaptada. Para ouvir a pregação completa acesse:

A beleza salvará o mundo – Padre. Joãozinho (16/02/14)

 

Para saber mais:

6 conselhos de São João Paulo II aos artistas

Tarde Te Amei!… – Santo agostinho

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