Cristo Rei: o que significa celebrar a realeza de Jesus

“Porque o reino de Deus é fazer a Sua vontade”.

A solenidade de Cristo Rei é relativamente recente. Em 1925, o papa Pio XI instituiu a festa de Cristo Rei num contexto histórico complexo, entre duas grandes guerras de proporções nunca antes vistas. O mapa político transformado pelo crescimento do comunismo, nazismo e fascismo. Culturalmente o mundo estava desesperançado. O niilismo crescia na filosofia e nas artes. Por que neste contexto foi reafirmado o primado de Cristo sobre os reinos do mundo? O que significou naquele momento e o que significa ainda hoje celebrar a realeza de Cristo?

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Ícone Cristo Rei do Universo

Se Cristo é Rei, de que reino estamos falando?
Quando rezamos no Pai-nosso “venha a nos o vosso reino”, completamos (quase que dizendo o mesmo de forma diferente) com “seja feita a vossa vontade”. Porque o reino de Deus é fazer a Sua vontade. Entra e permanece neste reino aquele que faz a vontade de Deus. Esta vontade de Deus se realiza plenamente em Jesus. Por isso o Reino de Deus é também o Reino de Cristo, pois ele acolheu com sua total obediência o cumprimento da vontade de Deus. E também por isso, o anuncio apostólico não se detém em pregar o Reino de Deus mas sim o Cristo crucificado (1 Cor 1, 24). Jesus tornou-se para nós poder de Deus e sabedoria de Deus; podemos mesmo dizer que ele tornou-se o inicio e o modelo do Reino.

Mas como explicar a realidade que vivemos tão distante deste Reino? Tão desigual, tão desesperançada? Realmente o Reino ainda está por vir em muitos sentidos. Há muito que se ordenar segundo a vontade Deus individual e socialmente. Mas todo cristão é apaixonado pelo Reino e deve buscar este Reino em três campos de construção. O mundo, este lugar especial de realização do Reino, deve tornar-se de fato “o mundo do nosso Senhor Jesus Cristo”. Um mundo livre do pecado, que deforma a humanidade. Construir o Reino no mundo é exaltar a dignidade humana, a justiça e a paz. É, principalmente, deixar o rosto do Cristo estampar-se sem feridas no rosto de cada ser humano.

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Mas também precisamos buscar o Reino de Deus na Igreja. É preciso fazer prevalecer nela a obra de Deus sobre a do homem. A Igreja precisa ser fermento e sal. “A diferença entre a Igreja e o mundo não é que uma pertence a Cristo e o outro não; mas que a Igreja sabe que lhe pertence e o mundo não”, nos recorda Raniero Cantalamessa. Por isso Santo Agostinho afirmava: a Igreja é o mundo reconciliado.

Mas também individualmente procuramos o Reino de Deus. Mas como? Seguindo exemplos simples como o do “bom ladrão” que em sua humildade realiza uma singela, mas profunda profissão de fé em Cristo: lembra-te de mim. Construir individualmente o Reino é tornar nossos dias semelhantes ao evangelho de MT 25, 31-46. É estar sensível ao outro e as suas necessidades. “Comida é agua e bebida é pasto, você tem fome de quê?”, cantavam os Titãs na explosão do rock nacional nos anos 80. Sensibilizar-se é desalojar-se para que em nós more o outro. Sua fome e sede são nossas. Sua nudez é nossa. Seu desabrigo, sua doença, sua miséria são nossas. Sua solidão é nossa.

“Ninguém vai ao Pai senão por mim”, afirmou Jesus. Mas podemos estender dizendo que ninguém chega a Cristo se não for através do outro, do próximo. E nisto consiste a verdadeira religião onde brilha o senhorio de Cristo. Assim consiste a realeza de Cristo em nossas vidas. Para este ponto move-se a história do mundo: para esta plenitude, este ponto ômega, onde ouviremos “vinde benditos de meu Pai! Recebei em a herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo!”.

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