Padre Wagner Ferreira nos fala da relação entre o ministério de música e a liturgia
Gostaria de saudar aqueles que, direta ou indiretamente, estão envolvidos com o ministério de música. Vamos refletir sobre aquilo que a Igreja nos orienta a respeito do ministério de música e particularmente sobre a música sacra. Eu não sou propriamente um ministro de música, mas a música marca profundamente a minha vida, uma vez que nosso Senhor me chamou para ser membro de uma comunidade cujo carisma é uma Canção Nova.
Meus irmãos, para refletirmos o serviço que a música sacra deve prestar à liturgia, eu vou tomar com vocês um documento de São João Paulo II, redigido, no dia 22 de novembro de 2003, em memória de Santa Cecília, padroeira dos músicos. O seu objetivo é dar princípios fundamentais para o serviço da música sacra na liturgia e orientar os ministérios de música.
Existe a música do ponto de vista religioso e da fé cristã, que presta um serviço maravilhoso na evangelização. Eu gostaria de fazer um agradecimento, em nome da Igreja, aos ministros de música: muito obrigado pela dedicação e doação de vocês no serviço da evangelização, pela coragem de colocar os dons musicais naturais que Deus lhes concedeu a serviço.
Um princípio importantíssimo: as composições, melodias, músicas na liturgia devem ter como finalidade primeira a glória de Deus. Portanto, os instrumentistas, cantores, cantoras devem se colocar a serviço desta finalidade e, juntamente com esta finalidade, a santificação e edificação dos fiéis na Santidade de Cristo.
Trago o exemplo de Santo Agostinho na sua obra “As Confissões”; ele escreve o momento no qual recebeu o Batismo na Igreja em forma testemunhal, mas também em forma de oração. Santo Agostinho se volta para o Senhor e diz: “Senhor, quanto chorei a ouvi profundamente comovido teus hinos e cânticos que ressoavam suavemente em Tua Igreja. Penetravam aquelas vozes em meus ouvidos e destilavam a verdade em meu coração. Acendia-se em mim um afeto piedoso, corriam-me lágrimas nos olhos e o pranto me consolava”.
João Paulo II, neste documento, diz que a música é tão sagrada na medida em que ela está unida profundamente ao texto sagrado. Porém, também diz que não é somente o texto que dá o conteúdo à música sacra a ponto de tocar o coração das pessoas, ele ressalta a harmonia da música, a beleza das vozes.
Nesse sentido de harmonia, João Paulo II também fala dos instrumentos musicais. Ele diz que, na liturgia, o órgão deve ser o destaque, principalmente o de tubos. Porém, as composições atuais utilizam frequentemente modos musicais diversificados. É claro, existem composições musicais que o órgão não cabe, são os outros instrumentos que vão prestar o serviço, sustentar a melodia daquela canção.
É por isso que, na celebração litúrgica, os instrumentistas não devem ficar ensaiando suas qualidades musicais. Está o padre celebrando e o músico está lá treinando acordes, dá vontade de enforcar o caboclo com as cordas do baixo.
Outro ponto importante é que os ministros de música precisam ser homens e mulheres de oração. Se a palavra de Deus não estiver no seu coração vão fazer música boas, temáticas, poéticas que servem para um show, mas não para a liturgia. A liturgia deve cantar os textos sagrados. Não é simplesmente cantar na liturgia, mas cantar a liturgia.
Não se deve dar um jeitinho de uma música entrar na liturgia. A liturgia é que dá o ritmo e a melodia da música. João Paulo II diz que nem todas as formas musicais podem ser consideradas aptas para as celebrações litúrgicas.
Mas também existem outros estilos musicais que prestam seu serviço à Igreja, como o cântico popular religioso, entoado nas paróquias e comunidades. Não se pode, por exemplo, cantar o glória na Quaresma. O tempo litúrgico dá o ritmo e a melodia, por isso a necessidade da formação litúrgica dos ministros de música.
Eu finalizo repetindo que todos precisam de formação litúrgica, porque manipular a liturgia é uma traição ao povo de Deus, é direito do povo de Deus ter uma liturgia bem celebrada e bem cantada. O Papa coloca a confiança em vocês. Sigam em frente. Ousem cantar a liturgia.