O artigo do missionário da Comunidade Canção Nova André Florêncio fala sobre a música protestante nos encontros católicos
Por André Florêncio
Músico e missionário da Comunidade Canção Nova
Olá! A paz!
Deus abençoe você e seu ministério.
Quero tratar de um assunto polêmico e muito sério, que é dúvida e motivo de discussão entre muitos. Afinal de contas, posso cantar músicas protestantes no meu grupo de jovens, de oração etc? E na Santa Missa?
Quero trazer algumas ideias para que possamos gerar uma discussão produtiva em nossos grupos. Já no início deste texto, quero pedir a luz do Espírito Santo, que Ele seja o iluminador das ideias que quero colocar aqui e também das ideias de quem irá ter acesso a este conteúdo.
De forma alguma quero estabelecer uma cisão entre pessoas, mas acredito que a informação nos dá subsídio para boas escolhas.
André, você já tocou música evangélica?
Sim, muitas vezes! Já rezei com músicas evangélicas, já obedeci a muitos padres que me pediram músicas evangélicas durante a Missa e também a coordenadores que me trouxeram o repertório e nele constavam essas músicas.
Comecei assim, pois não quero me colocar como um ditador que diz o que deve ou não ser feito; porém, tenho procurado me informar sobre o assunto, para trazer conteúdo que gere um diálogo e, assim, possamos chegar num consenso. Se hoje eu precisar tocar músicas evangélicas, eu as tocarei. Mas por quê?Para quê? Faço uma análise. Em alguns casos, propus uma troca: que tal tocarmos essa música em vez dessa que você me trouxe? Em certos casos, preciso obedecer; em outros, posso recusar. Falo isso para que você também possa, aos poucos, conquistar essa liberdade.
Sou contra a música evangélica?
Não, não e repito não. Admiro muito os músicos evangélicos! Dentre eles, estão grandes nomes da música brasileira e músicos altamente capacitados. Mas existe uma diferença entre não ser contra a música e utilizá-la na minha igreja. Vamos desenvolver melhor o assunto.
Sabemos bem que há 30 ou 40 anos, início da Renovação Carismática Católica (RCC) no Brasil, havia poucas rádios católicas, poucos músicos católicos, a própria Rádio Canção Nova tocava algumas músicas evangélicas. No livro ‘Louvemos o Senhor’, havia algumas músicas evangélicas; outras, popularizaram-se tanto no meio católico que, hoje, ninguém imagina que são evangélicas. Músicas que, de forma alguma, ofendem ou ofenderam a nossa fé. Porém, era um tempo diferente, um cenário que justificava tais atitudes. Hoje, estamos em outro cenário, muitas coisas aconteceram na música católica em 40 anos.
Há, hoje, inúmeras músicas católicas, muitos cantores, compositores etc. A Rádio Canção Nova não toca mais músicas evangélicas, já não é mais necessário tocá-las.
E nós músicos, ainda temos necessidade de tocar publicamente as músicas evangélicas? Alguns responderam ‘sim’, e têm suas justificativas; outros responderam ‘não’ e têm suas justificativas. Será que temos a necessidade de tocar publicamente as músicas evangélicas? Voltando à pergunta do parágrafo que está atrás: “Música evangélica: onde e quando?”
Quero recorrer a uma frase de Dom Estevão Bettencourt, o mesmo que padre Joãozinho já citou em seu blog.
Segue na íntegra a postagem de padre Joãozinho de agosto de 2009:
1) “Pois bem, os protestantes têm seus cantos religiosos, cuja letra exprime a fé protestante. O católico que utiliza esses cânticos, não pode deixar de assimilar aos poucos a mentalidade protestante; esta é, em certos casos, mais subjetiva e sentimental do que a católica.
2) Os cantos protestantes ignoram verdades centrais do Cristianismo: A Eucaristia, a comunhão dos santos, a Igreja Mãe e Mestra… Esses temas não podem faltar numa autêntica espiritualidade cristã.
3) Deve-se estimular a produção de cânticos com base na doutrina da fé.” (Dom Estevão Tavares Bettencourt, OSB- Pergunte e Responderemos n. 516)” Outra frase: “Lex orandi lex credendi” (Nós oramos de acordo com aquilo que cremos).
Esse texto traz dois pontos importante que quero destacar:
1 – O canto exprime a fé religiosa. Nossa fé, por mais que tenham pontos que se encontrem com a fé protestante, não é a mesma. Não podemos sair por aí dizendo que, por acreditarmos em Deus, expressamos a mesma fé ou o que importa é acreditar em Deus e tudo bem. Existem diferenças muito importantes.
No item dois, ele diz que o canto protestante ignora verdades centrais do Cristianismo: Eucarística, comunhão dos santos, dogmas etc. Tal música parece que foi feita para a Eucaristia, mas não foi; outra música parece que foi feita para a Missa, mas não foi. Porque eles não acreditam nessas verdades; então, se você não acredita no que canta, deixa de ser verdadeiro na sua canção. E isso os evangélicos não são; eles são autênticos em suas composições.
2 – Música mais subjetiva e sentimental.
Em seu blog, padre Paulo Ricardo cita, em um dos seus textos, o Papa emérito Bento XVI: “A liturgia não deve ser simplesmente uma expressão de sentimentos, mas emergir a presença e o mistério de Deus, no qual ele entra e pelo qual nós nos permitimos ser formados”. E essa frase está totalmente de acordo com o que escreveu também Dom Estevão.
O Papa emérito fala diretamente da liturgia, mas essa frase não cabe em qualquer situação onde se faz necessário a música? Vamos analisar juntos uma situação:
Hoje, com o crescimento das redes sociais e a mudança do mercado fonográfico, temos acesso a tudo e a todos pela internet.
Vamos a um exemplo: animei meu grupo de oração só com músicas evangélicas. Houve a pregação e a oração, o Espírito Santo agiu. Mas a música da noite, aquela da congregação tal ou da igreja tal, ficou gravada na mente da pessoa. Ela quer aquela música, porque fez uma experiência, seja com Deus, seja com a música ou com o momento (não é isso que quero salientar agora). Ela volta para casa, vai procurar a música na internet e a encontra na fonte, ou seja, de onde ela veio. Desculpe-me, mas colocamos aquela pessoa em uma zona de risco. Posso gerar nela a vontade de conhecer mais daquela fonte. Não protegi minha fé.
Você pode dizer: mas o que importa realmente é levar a pessoa a encontrar Deus. Irmãos, somos católicos e precisamos dar às pessoas que vem até nós a verdade da fé católica, nada dúbio ou equivocado.
Volto à frase “Lex orandi lex credendi” (Nós oramos de acordo com aquilo que cremos). Posso complementar? Em meu livro “Música, chamado e serviço” falo um pouco disso, canto o que acredito e falo também sobre a música secular, no que diz respeito à verdade de fé. Dom Estevão nos deu uma boa luz!
Vamos ver o que o Catecismo da Igreja Católica nos diz: “1156 – A tradição musical da Igreja universal constitui um tesouro de valor inestimável que se destaca entre as demais expressões de arte, principalmente, porque o canto sacro, ligado às palavras, é parte necessária ou integrante da liturgia solene. (…) 1157 – O canto e a música desempenham sua função de sinais de maneira tanto mais significativa por estarem intimamente ligadas à ação litúrgica, segundo três critérios principais: a beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembleia nos movimentos previstos e o caráter solene da celebração. Participam assim da finalidade das palavras e das ações litúrgicas: a glória de Deus e a santificação dos fiéis. (…) 1158 – Todavia, os textos destinados ao canto sacro hão de ser conformes a doutrina católica, sendo até tirados de preferência das Sagradas Escrituras e das fontes litúrgicas.
“Quero salientar a última frase: “1158 – Todavia, os textos destinados ao canto sacro hão de ser conformes à Doutrina Católica, sendo até tirados de preferência das Sagradas Escrituras e das fontes litúrgicas”.
Alguns podem dizer: “Mas a música protestante também é tirada da Sagrada Escritura”. Porém, você nunca vai encontrar, na igreja protestante, uma música baseada no livro de Macabeus nem de Tobias.
As fontes litúrgicas são riquíssimas, pois esmiúçam para nós a liturgia no que diz respeito ao proceder, ao cantos, às ações etc.
Baseado no que diz o Catecismo da Igreja Católica e no terceiro item que Dom Estevão nos disse acima: “3) Deve-se estimular a produção de cânticos com base na doutrina da fé”.
Lanço um desafio
Vamos compor músicas para a sagrada liturgia? Vou escrever outro post sobre composição, porém deixo aqui o convite. Você tem capacidade, criatividade e inspiração para poder deixar a liturgia belíssima.
Só uma dica: cuidado com a composição, para que ela não fique com pouquíssima doutrina e muito sentimento. Nossa música é rica em doutrina, vida do povo e uma pitada boa de sentimento.
No dia a dia, como escolher as músicas?
“André, meu padre só me pede música evangélica”. Digo também, no meu livro, que o padre é o presidente da celebração, a nós cabe obedecer-lhe. Porém, é muito interessante conversar depois sobre o assunto. Se a opinião dele for diferente da sua, você deve obedecer-lhe.
Para contrapor a opinião do padre, do coordenador e até do povo, que acha as músicas evangélicas melhores ou mais adequadas, leve opções. Para isso, ouça músicas católicas.
Se você só ouve música evangélica, em um momento de oração ou qualquer outro momento, toda sua inspiração será baseada nela. Digo em meu livro que é impossível o Espírito inspirá-lo sobre algo que você não conhece.
Agora, se a música é uma inspiração do Espírito para aquele momento, se você tem certeza disso e não tem outra opção, não vá contra o Espírito Santo. Fique atento e observe se é um gosto pessoal ou inspiração mesmo.
Mais uma vez eu lhe digo que não sou contra a música evangélica. Admiro muitos músicos evangélicos, já recorri a alguns para me ajudar, já fiz parceria com outros; porém, cada um tem o seu lugar. Só quero, com esse texto, ajudar você a encontrar o seu lugar na Igreja Católica como músico católico, que propaga a fé por meio da nossa música.
Grande abraço.