Nesta Semana Santa, um poema para Nossa Senhora no momento de dor
Pietá
Dois mil anos atrás,
Sentada sobre o chão frio,
Uma mulher chora.
Em seus braços está um corpo sem vida.
Seu filho já não respira,
O coração já não bate,
Já não tem sonhos,
Não tem medos,
Não tem mais nada.
Ontem de manhã,
Sentada sobre o chão frio
De uma rua de outra cidade,
Outra mulher contempla o passado que se perdeu
E o futuro que lhe foi negado.
Seu filho está morto também em seus braços.
Em seu olhar firma-se um abismo
De revolta, incompreensão,
Impotência.
Que consolo, que esperança?
Que palavra pode-lhe ser dita?
O sofrimento destas mulheres está além das palavras,
Onde nada mais tem ou pode dar sentido a sua dor.
Diante do seu olhar apenas nos calamos.
Silenciamos pelo que não compreendemos,
Pelo que somos incapazes de suportar.
Esse silêncio rompe o tempo,
Transcende o espaço.
Na figura de duas mulheres,
Com filhos mortos em seus braços,
Mora o mistério da própria humanidade.