Ser sincero nessa resposta pode direcionar bem o caminho que tomamos
Em nosso meio sempre ouvimos: “fulano tem dom”, ou, “ih, ciclano não tem dom pra música”, às vezes parece que isso é claro para todos, menos para a pessoa. Essa também é uma boa pergunta a se fazer quando, por algum motivo, passamos do hobby de tocar ou cantar para o fazer de forma mais séria ou até mesmo profissional.
Pensando neste tema pude observar que hoje em dia está na moda, entre os estudantes às portas do vestibular, fazer testes vocacionais para saber que profissão escolher; o que, com boa orientação, pode contribuir bastante para determinar que carreira seguir. Mas e para dizer se você tem dom ou não?
Quando falamos em “dom para a música”, na verdade, estamos falando de uma habilidade natural para o desenvolvimento da Inteligência Musical (teoria desenvolvida por Howard Gardner -psicólogo- em Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Artmed, 2000). Esse tipo de inteligência se dá pela habilidade natural para apreciar, compor e/ou tocar (ou cantar) uma peça musical assim como habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para identificar ritmos, texturas e timbres.
Geralmente, este “dom” (“inteligência) se manifesta desde a infância dependendo das oportunidades, estímulos e contatos que a pessoa tenha tido com esse meio, podendo com isso, não só descobri-lo, como desenvolvê-lo (o que não impede que por não ter tido, cedo, estes estímulos, possa se manifestar mais tardiamente). É inegável que uma pessoa que aprendeu a tocar sozinha, sem a ajuda de ninguém, tenha realmente essa “inteligência”, esse dom. Mas e a pessoa que descobriu interesse pela música, foi atrás, estudou e hoje toca ou canta bem? Claro que sim também. Como disse, é uma habilidade natural para o desenvolvimento desta inteligência, ou seja, na verdade você não aprende música do nada, mas, desenvolve, alguns de forma mais rápida, outros mais lenta, uns com pouco, outros com algum esforço. Com isso, o fato de aprender, entender, desenvolver e criar música exige um esforço muito grande e em algumas vezes sem sucesso, então aí está um bom critério para se perguntar se realmente você tem o dom para a música: conseguir ou não apesar do esforço.
Com isso é preciso ficar claro que uma pessoa que tem dificuldade com números, mas que tem bastante habilidade de se comunicar, falar em público ou mesmo de se relacionar, por exemplo, e que talvez por motivos diversos acabou seguindo uma carreira como matemático, físico ou contabilista, nada contra nenhuma dessas áreas (risos), certamente terá bastante dificuldade em sua profissão e provavelmente a muito custo consiga seguir com um sucesso “razoável” na mesma. O mesmo ocorre com a música.
Talvez você diga: “mas eu gosto tanto de música…”
Conheço muitas pessoas que gostam muito de música, que têm um gosto musical bem apurado e que até entendem bastante de música, dos conceitos de como funciona e etc, mas que não só não sabem, como não conseguem cantar ou tocar. Têm aqueles outros que, por terem bastante interesse e vontade de aprender para conviverem com os amigos, até sabem tocar e cantar um pouco, mas que o aprendizado só vai até o ponto que se exige apenas a “mecânica” do cantar ou tocar e que não desenvolve, não é natural. Até tem aqueles que têm um timbre de voz bem bonito mas que não têm afinação ou ritmo ou mesmo as duas coisas juntas, e que não evoluem.
É claro que, como em todas as áreas, têm aqueles que são razoáveis, bons, os excelentes e os geniais. O fato de você não ser um músico genial, que quando abre a boca ou só de pegar no seu instrumento todo mundo para, não quer dizer que você não tenha o dom da música. Provavelmente, seja o caso de se perguntar se vale a pena deixar tudo para viver exclusivamente para isso ou gravar um CD ou sair em turnê, etc…mas isso não impede que você possa ajudar, dentro de suas possibilidades, no seu grupo, paróquia, missas etc. Tão importante quanto saber se tem ou não o dom da música é ter consciência de suas possibilidades e do quanto, no momento em que está, é hábil o suficiente em relação à música e o quanto pode fazê-lo. Em que estágio, musicalmente, você está e o quanto você pode corresponder neste sentido. Neste ponto, tendo essa consciência de onde está, procure ver como fazer para melhorar, para aprimorar este talento, em alguns casos pode ser simples. Com passos simples você conseguirá melhorar muito e talvez em pouco tempo, mas talvez você precise de mais esforço, de mais dedicação, mais tempo, mas se tiver realmente dom, aptidão para música, conseguirá evoluir.
E, claro, caso dentre suas tentativas de melhorar, de se aprimorar, perceber por si só ou pelo feedback que outros te dão que não consegue e que esta área é mais um desejo ou vontade pessoal do que aptidão (dom), seja sincero o suficiente para assumir e buscar o seu lugar e o talento que realmente possui e que pode desenvolver com sucesso para o seu bem e dos outros.
Conhecer-se e ser verdadeiro consigo é sempre o melhor passo para buscar se encaixar bem no que faz e, de verdade, cumprir o que a palavra de Deus fala sobre fazer multiplicar os talentos, os seus verdadeiros talentos e não os dos outros.
Grande abraço e bom trabalho!
Enilson Martins Benicio – Comunidade Canção Nova
Veja também:
.: A importância do autoconhecimento na vida do músico