Evangelizadores comprometidos com o quê?

Com qual coisa os evangelizadores católicos são comprometidos?

Com o seu crescimento interior? Com a ampliação do número dos eventos evangelizadores? Com o êxito no universo digital com métricas que confirmem sua autoridade social? Com a maior profundidade do anúncio evangélico? Ou todas as opções acima? 
 
Tenho 48 anos e digo que é fácil olhar para trás e dizer: fiz certo, fiz errado. Mas, no dia a dia, não é tão simples, pois vivemos de “instantes”. Porque, no fim, tomamos decisões “aqui e agora”, mesmo com todas as metodologias e mecanismos produtivos que projetam sequências e metas smarts. O agora é o único tempo que temos e isso nos assusta. Então, narramos nossa vida e decisões sempre retrospectivamente. Para tornar mais fácil, menos pesada, mais compreensível.
 
Pode ser que seja a falácia narrativa que nos alerta Nassim Nicholas Taleb no livro “A Lógica Do Cisne Negro”, talvez seja aquela incoerência que nos alerta São Paulo: “Não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero”. E, assim, o artista/evangelizador se absolve. Ou procura absolvição o tempo todo. Eu sei que é assim, porque eu sou um artista/evangelizador. Intenção reta? Temos. Espiritualidade, vivemos nos sacramentos? Temos. Ética e moral? Temos. Mas, como diz o Carlos Drummond de Andrade: “A vida é curta e os dias são longos”. 
 
É no hoje, no agora, que os desafios se tornam moinhos ou dragões. E a língua solta, a disputa no mercado, as ações “legais” não tão legais assim é que nos jogam no olho do furacão. E a culpa? Sempre do outro! Ah, Sartre tinha lá seu quinhão de lógica ao afirmar que “o inferno são os outros, porque o outro me lembra tudo o que eu não sou, ainda”. Que “inferno” é ser aquilo que não se é na essência.
 

Sejamos evangelizadores agora!

A evangelização pela arte não é profissão. Mas, também não é “só” vocação. É um híbrido que nos confronta a todo tempo. Se não fosse assim, deixaria de ser espaço de santidade.
 
O artista/evangelizador é um ser incompleto no palco e holofotes dos contemporâneos mitos. A tela do computador tem Photoshop, Auto-Tune, impulsionamentos. O evangelizador enquanto artista vive o dilema da adequação aos novos tempos e o risco de tornar-se a bailarina do Chico Buarque: “(…) Todo mundo tem chulé, só a bailarina que não tem”.
 
Até suas mazelas são bem redigidas e testemunhadas, afinal, somos incoerentes, contudo não somos corrompidos. Sim, falamos do que vivemos e dos nossos fracassos, mas só se no fim da história vier a vitória. Porque, como já disse, vivemos o aqui e agora.
 
Narramos nossa vida como se fosse um livro terminado, no entanto, não terminamos o caminho. E todos os dias depois do show, da gravação, da pregação recolhemos nossos trapos e seguimos adiante. E, todo dia é o último e, também, o primeiro. Pois, todo dia temos realmente “todo tempo do mundo”, replicando Renato Russo. E todo tempo do mundo é o “aqui e agora”. 
 
Reflitamos sobre o nosso comprometimento enquanto músicos evangelizadores e sigamos adiante neste tempo propício: o hoje!
 
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