FORMAÇÃO

Devolva a minha humanidade, por favor?

O evangelizador e a sua humanidade

Todo evangelizador enfrenta, diariamente, o espelho. Aquele que contabiliza, entre rugas e cabelos brancos, a ação do tempo; e aquele outro, o espelho da alma. Este sim reflete o coração do evangelizador, o homem da Palavra que sai a semear a esperança e a despertar a fé em outros corações.

O que esse espelho da alma diz nem sempre cabe no discurso bem acabado e perfeitinho dos estereótipos religiosos. O evangelizador verdadeiro e sincero se confronta, diariamente, com suas impotências espirituais, suas fragilidades afetivas e psicológicas. O temperamento tantas vezes destemperado.

O espelho reflete suas pequenas e mesquinhas idiossincrasias diárias, inconfessadas, varridas para baixo do tapete. O pior é quando o espelho reflete sua intimidade ao outro. Ah, o outro! O outro e suas projeções e expectativas de perfeições sobre o evangelizador. E quando o descobre, quando se revela a limitação do homem de Deus, quanta crítica, quanto dedo em riste, quanto desapontamento!

O evangelizador verdadeiro e sincero empresta voz à Palavra, mas sabe que ele não é a Palavra. Paradoxalmente, sabe que a Palavra é tudo nele, e sua oração é o olhar sustentado sobre sua própria humanidade. Sobre suas impurezas, suas maculadas intenções e encruzilhadas espirituais não desiste o evangelizador sincero, apenas pede ao próximo que lhe devolva a sua humanidade, e a Deus que a eleve.

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