Deus utiliza-se do músico para ser Seu suporte para a evangelização
O ministro de música, seja ele um cantor, instrumentista ou alguém que, de alguma forma, esteja à frente dessa missão na Igreja, nada mais é do que um suporte para que Deus possa chegar ao coração de muitas pessoas.
Ser um suporte nada mais é do que ser alguém que suporta e sustenta o outra, ou seja, ele tem consciência do seu lugar, do seu papel e da sua missão no Reino de Deus. Para ser suporte é necessário todo um caminho de conscientização e amadurecimento no serviço da música dentro da Igreja. E, para sermos autênticos suportes, precisamos – em nós – trabalhar constantemente: a virtude da humildade.
Papa Francisco, em uma das suas homilias, recorda-nos de que, o Senhor, ao nos enviar em missão, deseja que não levemos coisa alguma a não ser o ‘bastão’ e a ‘sandália’; e que sejamos humildes servidores do Reino dos Céus. “Seu equipamento atende a um critério de sobriedade”. Por isso, de fato, os Doze têm a ordem de “não levar nada além de um bordão para a jornada: nem pão, nem mochila, nem dinheiro no cinto: O Mestre os quer livres e leves, sem apoios e sem favores, seguros somente do amor d’Aquele que os envia, fortes somente de sua palavra que irão anunciar. O bastão e as sandálias são a dotação dos peregrinos, porque, assim são os mensageiros do Reino de Deus, não são gestores onipotentes, não são funcionários estáveis, não são divos em turnê”.
Músico, um suporte de Deus
Não somos gestores onipotentes e, muito menos, funcionários estáveis com salários e cachês; menos ainda divos de turnê, somos servidores do reino. Isso exige um trabalho constante de formar, em nós, esse espírito de serviço. Realizamos tudo, sabendo que somos apenas suporte.
Conto-lhes uma experiência pessoal que vivi em Portugal, no início de nossa missão. Naquela época, eu havia sido escolhida para fazer uma experiência no exterior. Já estava há algum tempo à frente do Ministério de Música Canção Nova, apresentava programas de TV, rádio, enfim, estava despontando em minha carreira de “Diva”. Aceitei o convite, deixei tudo para traz e fui com coração aberto e feliz; sabendo que estava realizando a vontade de Deus, porque, dentro de mim, havia um forte ardor missionário.
Naquela época, a Canção Nova ainda não era conhecida em Portugal como já era no Brasil. Nossas tarefas eram simples e a nossa missão estava começando praticamente do nada naquelas terras. Fazíamos, inicialmente, um trabalho de aproximação com a Igreja local e com a Renovação Carismática Católica daquele país.
Deus não havia me escolhido para ser uma diva de turnê, e sim um suporte
Numa dessas oportunidades de encontro, fomos nos apresentar para a equipe responsável de um encontro carismático a fim de nos colocar à disposição para algum eventual trabalho. Não sei o porquê, ao me ver, o padre responsável pelo encontro, pediu-me um favor um pouco diferente.
Ele olhou para mim e disse: “Filha, você pode segurar o microfone para aquela senhora pregar?”. Imediatamente, sorrindo, coloquei-me de prontidão e disse sim. E, pasmem… Fiquei quase uma hora sendo um pedestal de microfone. Minha vida missionária, minhas experiências de ministério de música, TV, rádio passaram por minha cabeça como um filme o tempo todo. Dentro de mim uma pergunta que não queria calar: “Eu deixei tudo no Brasil para isso?”.
No entanto, naquele momento, eu também ria de mim mesma e percebia o quanto Deus estava me quebrando e trabalhando em mim a humildade. Eu precisa descer do palco para ser apenas um suporte de microfone. Deus não havia me escolhido para ser uma diva de turnê, e sim para ser pedestal, um suporte para que Ele cantasse através de mim. A lembrança desse fato sempre coloca-me de volta em meu lugar.
Estar a serviço de Deus
Do que adianta ser cheia de talentos e ser, também, tomada pelo de orgulho e pela vaidade? Eu descobri o valor de ser um servo, alguém a quem Deus usa como Ele quer e quando Ele quer. Deus trabalhava em mim a humildade.
São Gregório de Nissa vai dizer que: um carro cheio de boas obras conduzindo pelo orgulho leva para o inferno, entretanto, conduzido pela humildade, um carro cheio de pecados leva ao paraíso. O orgulho é o pior dos pecados, maior do que a infidelidade e o desespero, maior do que o homicídio e a luxúria.
A razão do orgulho ser o pior dos pecados é porque os outros pecados desviam você de Deus pela ignorância, por fraqueza ou pelo desejo de um bem qualquer, ao passo que, o orgulho, o desvia de Deus, unicamente por você não submeter-se a Ele e a Sua lei. Todos os vícios nos levam a fugir de Deus, mas o orgulho nos leva a encarar de frente e altivo.
“Todo arrogante é uma abominação para o Senhor ( Prov 16,5). Por que isso? Porque o soberbo é um ladrão, um cego e um mentiroso. É um ladrão, porque se apropria do que pertence a Deus, de quem ele recebeu tudo o que tem. É um cego, como diz Ap 3,17, o que podemos nos atribuir fora do nada e do pecado? É um mentiroso, visto que, todos os bens do homem, tanto os da natureza como a inteligência, beleza, aptidões como os da graça, são pertencentes a Deus.”
E qual o remédio para tudo isso? O remédio é fazer o exercício diário de ser suporte, pedestal, de servir apenas sem querer ser reconhecido e aplaudido. Naquele dia, o foco não estava em mim, estava na Palavra. O foco de nossa missão precisa estar em Jesus. Muitas vezes, Deus permite essas situações para que nos recordar do nosso lugar e da palavra de São João: “Que ele cresça e eu diminua ainda mais” ( Jo 3,30).
Rogerinha Moreira