Formação

Músicos, não se preciptem e deixem que Deus os surpreenda

Padre Demétrio Gomes traz uma importante reflexão sobre ouvir a Deus e deixar que Ele nos surpreenda

Eu quero começar com uma pequena observação, um alerta, porque, ao nos depararmos com a mesma passagem do Evangelho, nós caímos no risco de nos metermos em uma tentação do acostumamento, de acostumar-se. É a tentação de começar a ouvir a palavra, uma palavra santa, inspirada por Deus, e pensar “já ouvi isso”.

E a partir do momento em que isso acontece, nós nos desconectamos. “Já ouvi isso, já sei o final da história”. Nós estamos na Santa Missa, e o padre ou diácono começa dizendo: “Certo homem tinha dois filhos”, e nós automaticamente pensamos “é a parábola do filho pródigo”. E aí nos desconectamos, não ouvimos nem prestamos mais atenção, porque achamos que já sabemos tudo o que acontece.

A Bíblia é sempre a mesma, e nós vamos ouvi-la até o final de nossa vida, mas essa tentação de encarar o texto sagrado como algo já conhecido nos impede de nos abrirmos à novidade de Deus. Isso também acontece no ministério dos músicos.

Quando os músicos vão escolher as músicas para a celebração, buscam saber qual o Evangelho do dia, e então, ao ler, se deparam com “Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo”, e nesse momento já param e dizem: “Escolhe aí uma música que tenha luz”. Então, deparam-se com “Ali onde houver um cadáver se reunirão os abutres”, sem conseguir pensar em nenhuma música com cadáveres e abutres, decidem por colocar ‘Te Amarei’ de entrada, que já está tudo certo, sempre encaixa. Quando fazemos isso, não damos espaço para que Deus nos surpreenda.  

Parece uma brincadeira, mas nós não abrimos o nosso interior para Deus nos renovar e transformar. Precisamos entender que não precisamos de novidade, não precisamos inventar nada. O que precisamos é descobrir nas coisas de sempre, nas verdades eternas de Deus, a sua eterna novidade.

Meus irmãos, o grande poder de atração que a nossa Igreja tem, o grande poder que a nossa música genuinamente católica tem, não é aquela que nos traz coisas novas, realidades novas, mas é aquela que nos faz aprofundar no mistério eterno de Deus. A novidade verdadeira do Cristianismo está em viver com profundidade aquelas verdades tão antigas, e sempre novas, do Evangelho. É assim que permitimos que Ele nos surpreenda.

O que precisamos é nascer de novo e cultivar a atitude das crianças. Não importa quantos anos tenhamos dentro da Igreja, o que importa é agir como as crianças, tratando tudo como novidade, como se não soubesse o que é e tivesse a curiosidade de saber. O que nos ajuda a não permitir que a rotina mate a nossa vida espiritual é o encanto que nós tendemos a perder.

Nós temos um tendência muito forte a nos acostumarmos com coisas sublimes. Deus se fez tão pequeno para se apresentar a nós, que corre o risco do nosso desprezo. Fez-se homem, igual a nós em tudo, exceto no pecado, e corre o risco de as pessoas trivializarem a Sua presença.

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