Padre Joãozinho orienta os músicos a, primeiro, ouvirem o que Deus tem no coração d’Ele para a sua vida. Leia.
Meus irmãos, a paz é mais do que uma ausência de conflitos; ela é equilíbrio vital. Para ser uma pessoa da paz é preciso estar em equilíbrio, e para chegar ao equilíbrio vital é preciso partir do Shema e chegar ao Shalom. “Shema” é uma palavra, em hebraico, que significa escuta mais do que ouve. Escuta! Escuta, Israel! Jesus diz: “Quem tiver ouvidos para ouvir, escute”.
Músicos que não têm ouvidos são desafinados. É ou não é? É fundamental ter musicalização, ou seja, desenvolver o hábito de escutar do jeito certo. Mais do que cantar do jeito certo, é preciso escutar. Se a gente não escuta, não consegue ecoar a voz que vem de dentro, do coração, da inspiração.
Então, uma coisa é escutar sons, outra coisa é escutar a voz do coração de Deus. Shema! Escuta! Músico, escuta! Povo, escuta! Marido, escuta! Esposa, escuta! E, lá no final, Jesus diz: “Onde você entrar, cante essa canção: ‘A paz esteja nessa casa. A paz esteja com você. Paz de Jesus pra você!'”. Ou seja: “Shalom”. Do Shema para o Shalom há uma vida inteira em que nós tentamos recuperar o equilíbrio vital. A harmonia com Deus, com as coisas, com os outros, consigo mesmo. Chegar a uma vida íntegra e integrada.
Aqui, tem um combate. Não é tão fácil assim conquistar essa escuta que leva à harmonia e ao equilíbrio. Viver no equilíbrio não é fácil. Vivemos num mundo, meus irmãos, desequilibrado. Tudo nos leva a nos desequilibrar, a perder a ponderação.
Vejam, por exemplo, a leitura sobre José do Egito. Um sonhador! Devia ser meio músico também… Os irmãos não estavam gostando do sucesso dele, porque ele tinha um talento. O talento dele era ser um sonhador – algo que era tratado como uma demência na época, e motivo de zombaria.
Músicos, nós somos sonhadores, não somos? Padre Jonas o que é? Um sonhador. Gente que tem visão. Que tem visões, que tem sonhos. Padre Zezinho tem um disco de quando ele fez 15 anos de canção, chamado “Coragem de sonhar”. E, naquela ocasião, perguntaram a ele: “Por que você fez um disco chamado ‘Coragem de Sonhar’?”. E ele disse: “Porque quem não tem sonhos não tem nada para realizar“.
Os irmãos de José do Egito venderam o irmão sonhador. E eu trouxe quatro atitudes violentas desses irmãos. A primeira é a violência das palavras: os irmãos de José não suportavam que ele fosse o mais amado pelo pai, “e não lhe podiam falar pacificamente”. Eles não tinham paz para falar. E falas que não são pacíficas não são cristãs.
Às vezes, a gente perde a paz e não consegue falar pacificamente com os nossos irmãos. A gente fica ríspido, violento. Mais do que violento, conflitivo! E acha que na vida as coisas só se resolvem na base do conflito. É preciso romper o círculo vicioso da violência e instaurar o círculo virtuoso da paz.
Como diz o Papa Francisco: uma revolução sim, mas uma revolução da ternura. Uma reação ativa, uma indignação santa, não violenta, sem armas. Não vamos pegar em armas! Nós queremos fazer através da música, de uma celebração etc., uma mudança na sociedade, uma revolução da ternura.
A segunda atitude violenta dos irmãos de José era feita por meio de comentários maldosos com outros. Quantas vezes fazemos isso? Falando mal do padre, da Igreja. Falando mal dos outros no Facebook, nas redes sociais ou em situações cotidianas, salões de cabeleireiro, bares. Isso é violento.
A terceira atitude em gestos. Os irmãos de José o pegaram e jogaram-no em uma cisterna sem água. Às vezes, a gente coloca o outro em uma situação que ele não sabe nem como sair.
A quarta violência é vender. Jesus também foi vendido, e sofreu as mesmas violências. Quando ele conta a história do dono da vinha que mandou o próprio filho, já que os empregados todos foram mortos, Jesus está se referindo a si mesmo.
Para instaurar o ciclo da paz, escute mais do que fale.
Músico inspirado é aquele que faz silêncio, ouve a voz do coração e, de repente, de lá de dentro, sai algo que até surpreende você. É porque Deus fala no coração.
É como se houvesse uma caixa preta no nosso coração. Ela é preenchida por um monte de coisas: catecismo, uma homilia, uma reflexão da palavra, acampamento de músicos, um estudo de música, português. E vai jogando “pás” de coisas dentro desse “buraco”. Aí, você escuta bons compositores… e tem os narcisistas que só ouvem o próprio CD.
Isso tudo está na sua caixa preta. E há um buraquinho nela, que é a intuição. Depois de todo esse estudo e trabalho que você fez, acalme o seu coração, fique em paz, aguardando a pérola que Deus vai lhe dar, aquela canção nova. Ninguém nunca fez, nem você, porque foi Deus quem fez. E você ouve essa canção, e ela gera paz, ela o surpreende; e você tem vergonha de assinar porque não foi você que fez.
Você é um instrumento nas mãos de Deus, é afinado, às vezes com uma cordinha desafinada, mas você é um instrumento.
Você faz a canção, colocou um arranjo, uma boa interpretação, mostrou para as pessoas e elas ficaram se perguntando: de onde saiu isso? E isso é um milagre.
O princípio fundamento da paz é a escuta. O violento não consegue ouvir nem sorrir, ele não tem amor nem humor. Ele não tem graça. E Maria é cheia de graça, por isso é Rainha da Paz.
Músico que é cristão tem amor, mas também tem humor.
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