Evangelizadores também são cristãos!
A sociedade encontra-se na era do broadcast (transmissão) íntimo e pessoal. Transmite-se nos “stories” das redes sociais a vida que desejam que o outro conheça, porque a vida real é difícil demais para ser “transmitida”, mesmo que seja na tela do celular.
Todo evangelizador é também um cristão cheio de dúvidas, fracassos e ambições. Todo evangelizador é um ser humano, do alto de suas potencialidades e limitações. Expor algumas e varrer as outras para debaixo do tapete da web, é mesmo a melhor maneira de harmonizar essa tensão?
Não é a toa que, de todos os livros escritos por santo Agostinho, o mais popular é “Confissões”. Pois, nele, mais do que se acusar por delitos cometidos, Agostinho narra sua trajetória exterior e interior em busca da verdade. E, por ela, sacrifica uma imagem já consolidada apesar da sua idade. Não lhe interessa o reconhecimento de sua inteligência e sabedoria, de seu valor e conhecimento; o que Agostinho confessa é o mesmo que João Batista disse aos apóstolos: “Depois de mim vem Aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno sequer de curvar-me para desamarrar as correias das suas sandálias” (Mc 1: 7).
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Ah, mas quantos príncipes evangelizadores! Desses que pincelam a imagem deles, fazendo até os defeitos parecerem adereços. E viva a voz empostada, a pausa dramática, as citações descontextualizados! Príncipes evangelizadores de Photoshop.
Impossível não lembrar do poema do poeta português Fernando Pessoa, Poema em linha reta, esse tem como temática a busca do eu lírico em encontrar alguém que confesse aberta e desinteressadamente um deslize. Isso não para receber críticas, mas para que esse alguém se reconheça humano e sujeito as falhas. Não desejo que, como o poeta, o artista evangelizador saia por aí confessando suas mazelas, mas vale uma reflexão: somos capazes de “descer” do palco? Não como um recurso para impactar a assembleia, mas como uma expressão da verdade que buscamos e já possuímos dentro de nós.
Assim, quem sabe um dia, os perfis sociais nas redes em conexão possam traduzir e atualizar de maneira mais honesta e forte o desejo daquele homem no século IV: para vocês sou artista, com vocês sou cristão.