FORMAÇÃO

Reflexões de um músico na Semana Santa

A Semana Santa nos faz refletir que nossa arte brota da fé

Pode um músico ter algo há dizer sobre a Paixão de Cristo? Posso ter algo a partilhar com vocês sobre a experiência fundamental da nossa fé: o sofrimento, a morte e a ressurreição do Filho de Deus?

Não sou teólogo ou filósofo, sequer professor de religião. Sou apenas um professor de violão, um músico cheio de tantas limitações. Mas meu coração move-me e não posso resistir. Tento, confesso envergonhado, mas não consigo resistir. A morte e ressurreição de Cristo é a razão da minha fé e ela é a razão da minha arte!


Não posso me aproximar de Cristo através de conceitos. Simples frases decoradas e formuladas não me ajudam nesta tarefa. Sou chamado a estar e permanecer ao Seu lado, como os discípulos no Getsêmani: orando, vendo Aquele que fez calar os ventos e acalmar as tempestades chorar gotas de sangue. Aquele que ressuscitou mortos, curou doentes e multiplicou pães e peixes. Está aqui, tão perto de mim que quase ouço sua respiração ofegante e voz trémula pedindo que se passe o cálice sem que Ele o beba. É fardo demais. É grande demais o peso que carrega!

Irrequieto, Ele ajoelha e levanta-se várias vezes buscando a companhia dos que O seguem. Mas ninguém O seguirá nesta noite mais escura. Ninguém poderá. Não pude repetir, muitas vezes, em minha vida Sua afirmação: “Seja feita a sua vontade!”. Eu neguei-Lhe muitas vezes o direito de dispor de mim, da minha vida. Escravizei-me no pecado, perdi minha liberdade querendo vivê-la a qualquer custo. Pequei e não tenho forças para carregar esse pecado. Ofendi alguém muito maior do que eu e não tenho condição de pagar esse preço. Está acima das minhas possibilidades!

Quem carrega este peso é Jesus, que agora desfila ao meu lado ensinando-me que devemos suportar o sofrimento e termos esperança. Deus não se cala. O véu se rompe de alto a baixo e nada poderá nos afastar do amor de Deus. Pois, o Seu amor comunica a vida. Rola grandes pedras que nos sepultam em tristezas tão profundas que nos negam a felicidade. Mas Deus é felicidade! A busca por Deus é a busca da própria felicidade! “Onde está meu Senhor?” – em mim também vibra esta pergunta. Onde O puseram? Não vejo mais sinais da Sua morte, da Sua dor. As vestes estão no chão.

Sinto-me abraçado e posso tocá-Lo. Posso tocar a razão da minha existência, tocar Aquele que dá razão e sentido a tudo e a todos em minha vida. Porque Ele é a própria vida e a minha vida é um canto de louvor: Cristo ressuscitou!

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