Formação

As estações da alma - com Padre Adriano Zandoná

Padre Adriano Zandoná explica por quais estações da alma passamos antes de estar em comunhão com Deus

Para atingir o modelo do homem perfeito, que é Jesus Cristo, é preciso passar por três vias: purgativa, iluminativa e unitiva. Às vezes, estamos tão imersos no pecado, que nem percebemos o quão afundados na lama estamos, aí começam as estações da alma, que têm a meta de nos purificar, nos tirar da vida carnal e nos inserir na vida de Deus. 

A primeira das estações da alma, que é o inverno, é chamada de via purgativa. Santa Teresa D’Ávila fala no livro das ‘Sete Moradas do Espírito’ que essas pessoas estão na primeira morada. Já se despertaram para Deus, rezam de vez em quando, mas ainda estão consumidas pelas preocupações do mundo e pelo apego ao prazer. Nada mata mais a vida de Deus em nós do que o apego ao prazer desordenado. 

Então, nesta primeira via, a alma começa a despertar, é um tempo de purificação. É preciso purificar-se das consequências do pecado, do mundanismo. Padre Tanquerey explica que há três tipos de principiantes: os inocentes que estão chegando agora, jovens e crianças; os neoconvertidos, que têm as consequências dos pecados; e os tíbios, que estavam progredindo, mas recaíram.

Santa Teresa nos ensina que quem não combate os pecados capitais não sobe para outra morada. Você sabe quais são os pecados capitais? Orgulho ou soberba, preguiça, avareza, gula, inveja, luxúria e ira. Não é que você tem que ser um anjo, mas se você quer crescer e chegar ao outono e à primavera, precisa combater as inclinações aos pecados capitais dentro de você.

É um tempo também de fazer penitência, mortificar as vontades, como diz Santo Agostinho. Ninguém sobe a uma nova estação se não mortifica a própria vontade, dizer não a si mesmo, ter humildade e mortificar o amor próprio desordenado. A autoestima é uma coisa boa, mas o amor próprio desordenado  é quando nos colocamos no centro e achamos que tudo tem que girar em torno de nós. A pessoa ama mais a si do que a Deus.

São João da Cruz dizia que quem não mortifica a própria vontade e não adquire autodomínio sobre as inclinações e emoções é como uma criança birrenta, que hora quer uma coisa, hora quer outra. É preciso acolher com humildade as pequenas provações que acontecem na nossa vida, a espera, as coisas que não saem como o planejado. E cultivar também a modéstia e o olhar baixo. Há pessoas bonitas, e se você quer ser santo você não tem que olhar para tudo o que vê, a linha entre a admiração e o olhar com malícia é muito tênue.

Na primeira via, é onde a maioria de nós estamos. Agora, a segunda via, a iluminativa, outono, tempo de mais secura e primavera, tempo de colher os frutos da purificação. Estado das almas em progresso. Almas de terceira morada, para Santa Teresa, são as pessoas que já têm um grande desejo de não ofender a Deus, guardam-se de pecados veniais, gostam de fazer penitência, mas ainda têm algum apego com o mundo. 

Nessa via, a pessoa já deve ter mortificado suas vontades, ter um grau de pureza de coração e convicções profundas acerca de Deus. É um tempo de crescimento na virtude, na obediência, paciência, humildade. Nesse estágio, a pessoa é muito tentada, principalmente pela tibieza, a pessoa tíbia é aquela que perdeu o fervor. Não se pode lutar apenas contra o pecado mortal, é preciso lutar também contra o pecado venial, porque ele leva a nossa alma a recair em pecados mortais.

Vamos agora para a última via, unitiva, o verão, o fogo e o calor do amor de Deus. Essa é a via da união profunda da alma com Deus. Como disse São Paulo aos gálatas, não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. No inverno, nós nos purificamos. No outono e na primavera, nós crescemos e nos aprofundamos. E agora no verão, nós retiramos os impedimentos, para que Deus possa agir livremente em nós. É um tempo em que atrapalhamos menos a Ele. Muitas vezes, Deus não faz mais em nós porque os nossos vícios, os nossos desvios, os nossos pecados atrapalham. Nessa fase não há momentos de oração, a nossa vida se torna uma oração.

Se você está longe, se ainda não conheceu as moradas da alma, não desanime. Santa Teresa nos ensina que o primeiro passo é uma confissão bem feita. Caiu? Busque confessar de novo. Nós somos padres para atender confissões, não precisa ter medo de perturbar o padre. Nunca desanime. O objetivo é viver nesse mundo, com os pés no chão e a cabeça no céu. Deus nos criou para voar mais alto, e passar pelas estações da alma até alcançar a última via nos ajuda a ir cada vez mais alto e estar cada vez mais perto d’Ele.

Para conferir a pregação completa acesse:

As estações da alma – Padre Adriano Zandoná (23/10/2021)

 

 

 

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