Formação

A Igreja pede mais de nós

Padre Zezinho nos fala sobre o chamado: “A Igreja pede mais de nós”

O tema que me pediram foi: “A Igreja pede mais de nós”. Eu vou falar sobre duas palavras: áskesis – ascese – exercício, do grego; e axendere – subir. Nós vivemos no tempo das academias. As pessoas se exercitam para estar em forma, para ficar mais bonitas. E cabe a pergunta: por quê? As duas palavras falam do esforço por aprender a ser mais competentes no que fazemos. No cristianismo não tem moleza. Quem quiser improvisar vai perder-se. Sem aprendizado constante não se forma um bom time. O treinador não escala o sujeito mole, só aquele que faz esforço. 

Ninguém faz nada sem treinar. Isso é a ascese. É disso que eu quero falar para vocês, que supostamente foram chamados a aparecer. Quem toca uma viola, um teclado, quem tem um microfone, quem sobe ao palco está aparecendo. Mesmo que não queira. Você é dado ao espetáculo e o espetáculo ao mundo. Se você quer ser cantor, comunicador, ou um jovem que fala da palavra de Deus para os outros você vai aparecer.  A mística de aparecer é que é perigosa. Quem não sabe aparecer para mostrar Jesus aos outros corre um grande risco de aparecer por aparecer. 

Eu escolhi a palavra ascese que tem dois significados, subir em latim, e em grego exercício, por uma razão. Já que somos dados ao espetáculo, não temos escolha. O Senhor nos chamou para isso. Tudo isso aqui funciona, porque alguém chamou. Primeiro, padre Jonas; depois, vocês.  Alguém subiu no palco, lançou um CD, mas não foi para ele, foi para trazer alguém para o Evangelho. 

Então, ascese é um ato de aprender, treinar, fazer bem aquilo que faz. Ser competente. E é também um ato de subir, elevar o outro consigo. Somos chamados a subir os degraus da busca pelo melhor, não para nós, para a Igreja. Sem a ascese consciente, sem a espiritualidade consciente, parecemos as mocinhas que querem melhorar sua forma física subindo apenas um degrau. Ficam bonitinhas, criam músculos, mas não sobem, não saem do lugar. Na fé não é assim, nós temos que subir mesmo. De nós, a Igreja quer mais. 

A Igreja quer mais de cada um de vocês. Você canta bem? É para a Igreja. Você compõe bem? É para a Igreja. Nada é para você. Queremos e teremos que subir, e não fingir que subimos. A ascese é uma das práticas mais difíceis de executar, porque toda hora você tem que dispor de si mesmo para o outro. Vai esquecer-se de si mesmo. Somos chamados a subir com mochilas carregadas – uma cruz. Carregados com os sonhos dos outros, dos pobres, dos machucados. 

Eu sempre disse que queria ser padre. Desde menino. Eu queria subir, mas, desde cedo, aprendi que não estava subindo para dizer que cheguei lá. Meus formadores deixaram claro que, se eu tinha talento, eu deveria subir abrindo caminho para os outros. Subir sozinho é uma forma de vaidade. Eu nunca pensei em ser cantor. Eu queria ser padre. Eu nunca pensei ser escritor, nem compositor, nem fazer rádio, nem televisão, muito menos ser famoso. Eu queria simplesmente ser padre. Ter uma paróquia. Eu nunca tive. A Igreja nunca me deu, e era tudo o que eu queria. 

Os superiores me colocaram para trabalhar na pastoral da juventude. Eu teria que chamar os jovens. Aí descobri o canto, que chama que é uma beleza. Então a Igreja me disse: “Você pega um violão, você pega um teclado e você pega um livro e vai servir os jovens”. Com o tempo, descobri que tinha jovens que tocavam melhor do que eu. Comecei então a compor canções, essa é a minha vocação. Comecei a escrever artigos. Formei grandes grupos de jovens, mas o meu negócio era pregar. Eu nunca fui o padre cantor, eu sou o padre que faz cantar. 

Eu queria que os jovens evangelizassem. Então eu os fazia ler, quem quisesse trabalhar comigo tinha que ler muito. Eu não queria que dessem só o coração para Deus, queria que dessem a cabeça também. Deus chamou vocês a serem cantores, cantoras, instrumentistas, mas também chamou vocês a serem catequistas. E se vocês não fizerem esforço para ser catequistas, nada mais vai dar certo. Vocês têm que repercutir a Doutrina da Igreja. Ser pregadores, evangelizar. 

Não fiquem à mercê de um discurso bonito. Se for bonito façam, mas ele precisa ter conteúdo. Vocês estão a serviço da Igreja, se ela disser “pare”, vocês tem que parar. Se ela disser “mude o jeito de falar”, você tem que mudar. Tem um Papa aí fazendo isso. Você realmente quer ser pregador espiritual? Então continue subindo. Porque se você cair, é para cima e não para baixo. Isso é ascese. Subindo e levando os outros consigo. 

 

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