Confira alguns passos para se tornar um compositor
Desde sempre eu parti do princípio que a habilidade de compor não faz necessariamente um compositor. Talvez tenha sido pelo estudo na faculdade de música que me fez debruçar sobre regras, estruturas e procedimentos melódicos e harmônicos. Toda esta formação não me fez produzir algo que pudesse reconhecer como sendo uma composição original. Faltava alguma coisa e eu assumi o paradigma que compositores são seres inatos e nascem com talentos congênitos. Eu não havia nascido compositor.
Mas, um dia transbordou dentro de mim, porém, não foi uma torrente de inspiração divina, uma centelha criadora. Foi inveja. Quando me perguntam como comecei a compor, sempre respondo: comecei por inveja. Inveja confessada, principalmente, do meu parceiro de banda Fred Pacheco, compositor de tantas canções maravilhosas. A inveja foi tanta que me propus um desafio: por um mês, iria reservar duas horas diárias para compor uma canção. Eu ficava sozinho em casa, na frente da tela em branco do computador, violão no colo e uma xícara de café com leite nas mãos.
O esforço foi recompensado e o álbum seguinte da banda DOM contou com várias parcerias minhas. De lá para cá, continuei e aprendi algumas coisas. Conhecimento bom é conhecimento partilhado.
Dicas para se tornar um compositor:
1 – Todos temos pontos fortes e pontos fracos!
Existem aqueles que têm mais facilidade melódica, outros são mais hábeis com a construção da letra. Alguns têm especial capacidade para emplacar aquele refrão arrebatador e outros sabem, como ninguém, desenvolver uma estrofe, apresentando personagens e roteiro. Conheça seus pontos fortes e fracos. Assim, mesmo não sendo o melhor, terá segurança. Pois, saberá seus limites e os perigos que podem ocorrer.
2 – Conte uma história
Uma canção é principalmente uma história. Não tenha pressa em terminar a narrativa, em dar por acabada; mas também, não queira narrar o Ulysses do James Joyce em uma canção de 3 minutos. Seja objetivo ao definir a ideia principal. Se puder resumir em uma frase ou uma palavra será fantástico! Aliás, os melhores títulos de canções conseguem sintetizar a ideia principal da canção.
3 – Saia da zona de conforto
Nem toda canção que você fizer será a canção que arrebatará corações, trilha de grupos de oração e figurinha carimbada nos folhetos de música das missas dominicais. Muitas canções serão apenas exercícios. Explore estilos, ritmos, paisagens, instrumentos, tudo no que possa estimular seu aprendizado. E mantenha-se determinado!
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4 – Criatividade é um processo
Criatividade é um processo. Na música clássica todos os grandes nomes, de Bach a Stravinsky, produziam em paralelo. No ano em que comecei a tentar aprender a compor, dividi também o meu tempo com a atividade de escritor, além de músico da banda DOM. Muitas canções que faço se constroem lentamente. Às vezes, fico meses apenas com uma estrofe. Termino outras canções e, só depois de algum tempo, aquela estrofe inicial ganha um refrão e pode ser então finalizada. Como eu trabalho bastante em parcerias, tenho muitas músicas em processo e que caminham em paralelo.
5 – Seja você
Muita gente me pergunta o porquê tenho tantas citações de Santo Agostinho em minhas canções. Ou o porquê de falar tanto sobre o sofrimento, sobre o silêncio, sobre a canção, sobre o amor, etc. A resposta é óbvia: tudo isso faz parte do meu cotidiano interior. Ser você pode parecer fácil, mas não é. Estamos todos condicionados pela forma como nos vemos. Mas, todos podemos ser mais do que aparentamos e também podemos mudar, transformar nossa forma de pensar, de agir e de falar. É tentando, experimentando, errando, ousando, etc.; que aprendemos a ser nós mesmos.
Dica final!
Talvez você se considere um compositor amador. Meu conselho é: sempre se veja como um amador. Mas, o fato de se ver como um amador, não quer dizer que você não pode ou deva melhorar. Fazemos música por amor e o amor não tem medidas. Como diz Santo Agostinho: “A medida do amor é amar sem medida”.