A oração é essencial para a vida do músico
“Reza bem que vive bem” (Santo Agostinho sobre a ordem 2,19,51)
“A música é ciumenta”, dizia um amigo nos meus tempos de faculdade. Queria ele me alertar para as exigências técnicas da arte. As horas infindáveis de estudo, os ensaios em busca de perfeição e o tanto que líamos e pesquisávamos sobre o que iríamos tocar. Da mesma forma, quando tocamos na Igreja, enfrentamos rotina igualmente exigente. O risco? Descuidarmos da oração. E se incorporássemos a oração ao fazer musical, a exemplo dos monges, que em tudo parecem envolvidos pela prática orante – mesmo quando trabalham?
Se trocarmos as cordas de um instrumento, poderemos meditar sobre nossas próprias cordas “desafinadas e gastas”, as cordas do nosso coração. Ao montarmos o som para a Missa ou para o grupo de oração, podemos meditar sobre a organização da nossa vida interior. Podemos colocar, no gesto externo, todo cuidado que nosso interior precisa. Se ensaiarmos uma música, poderemos exercitar a escuta não só do nosso instrumento, mas de todos os que participam da canção. Assim, desenvolvemos a sensibilidade ao toque e expressão do outro. Ao construirmos um arranjo musical, teremos a possibilidade de estruturarmos nossa alma: aquilo que contraponto, melodia principal ou sustentação harmônica. Há sempre como fazer texto e contexto em tudo. Em tudo podemos enxergar nossa vida interior, trabalhar sem descuidar do que há fora, aquilo que em nosso coração requer cuidado.
“Vive bem quem reza bem!”
Santo Agostinho em discursos sobre os salmos 85, 7
Estar sempre com o pensamento voltado para Deus!
Apresento a “Oração de Jesus”, que consiste na repetição pausada da frase: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador”. Tem sido um descoberta relativamente recente, a partir de um livro que já se tornou um clássico da literatura espiritual: ‘Relatos de um peregrino russo’. Santo Agostinho, no século IV, já narrava o conhecimento de que “muitos irmãos do Egito recitam certas orações em intervalos muito breves. São orações curtas e rápidas como flechas disparadas de um arco, a fim de que a atenção, que é a alma da oração, não se dissipe nem adormeça pelo cansaço” (Epist. 130, 20).
Sobre essa oração também nos diz o Catecismo da Igreja Católica:
§ 2666. Mas o Nome que contém tudo é o que o Filho de Deus recebe em sua Encarnação: JESUS. O nome divino é indizível pelos lábios humanos, mas, assumindo nossa humanidade, o Verbo de Deus no-lo entrega e podemos invocá-lo: “Jesus”, “Javé salva”. O nome de Jesus contém tudo: Deus e o homem e toda a economia da criação e da salvação. Orar a “Jesus” é invocá-lo, chamá-lo em nós. Seu nome é o único que contém a Presença que significa. Jesus é Ressuscitado, e todo aquele que invoca seu nome acolhe o Filho de Deus que o amou e por ele se entregou.
§ 2667. Esta invocação de fé tão simples foi desenvolvida na tradição da oração em várias formas no Oriente e no Ocidente. A formulação mais comum, transmitida pelos monges do Sinai, da Síria e do monte Athos, é a invocação: “Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tende piedade de nós, pecadores!”. Esta associa o hino cristológico de Filipenses 2,6-11 com o pedido do publicano e dos mendigos da luz. Por ela, o coração se põe em consonância com a miséria dos homens e com a Misericórdia de seu Salvador.
É isso, músicos de Deus, oremos e trabalhemos!
“Reza-se como se vive e vive-se como se reza”! (Santo Agostinho)